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Pirata tudo bem, drogado não.

Pirata tudo bem, drogado não.

 

Segunda feira é um péssimo dia, catastrófico, todo mundo acorda com a cara de sanfona de forró "xulêro" que tocou a noite toda, não tem jeito.
E comigo não é diferente, saio sempre atrasado e com pressa, eu tenho o costume de quando passo o ferro nas minhas camisas, passar apenas a parte da frente, por 2 motivos.

Geralmente estou de mochila, logo as costas estão protegidas, ou quando estou sem mochila parto do pressuposto de não ter uma bunda bonita(ou nem ter bunda), logo ninguém olhará para trás quando eu passar.

Então nesse dia saí de casa igual a um papel crepon, mega amassado, tinha pressa.
Meus olhos tem ficado vermelhos direto, por conta da tela do computador me agredindo durante todo o dia e parte da madrugada, ser designer é f...

Avisto meio embassado meu buso na curva, faço sinal e ele comportadamente estaciona em minha frente como um poodle amestrado de circo, que beleza!

Abrem-se as portas da esperança, largo um "bom dia" pro piloto, e recebo um "dia..." de canto de boca, já entregando os R$2,50 e esperando meus R$0,15 de troco pra interar na volta.
É amigo, fim de mês eu procuro até moeda no canto do meio fio, meu pai sempre me ensinou.

Me joguei num canto, e ali fui me ajeitando até encontrar a posição perfeita para hibernar, assim como os Ursos das montanhas canadenses passando os 4 meses imóveis, pena que eu só tinha 1 hora e 20min pra isso(rezando para o trânsito estar bom).

Fone de ouvido, mochila abraçada no colo, eu parecia um exilado.

Senta uma senhora do meu lado, alinhada, na faixa de uns 45 anos, com uma bolsa vermelha brilhosa que chamava a atenção, eu não conseguia parar de olhar para aquilo.

Meu telefone toca, sempre é um desespero.
Tenho dois celulares, um ipod e uma carteira dentro de um bolso na mochila que mal cabe qualquer um deles sozinho, começo o processo de retirada pra resgatar o telefone que berra, meu toque discreto, clássico.

Daquele bolso sai tudo. Cotoco de lápis, moeda, notinha de caixa, papel de bala, lista de compras...

Eis que consigo atender. Era um amigo meu, o "Troço"(leia Trósso).
Minha mulher sempre questiona se eu tenho algum amigo que realmente tenha um nome descente, a resposta é sempre a mesma. Não.

Raios, Yogz, Scrau, Cora, Gago, Jóia, Mutombo, Cety, fazem parte do meu ciclo de amizade. Tudo gente boa, ninguém nunca foi preso à toa.

Vinha conversando com o Troço, e uma hora fiz uma pergunta que incomodou a senhora ao meu lado.

"- Cara, tô precisando do Crack do Max!"
"-Fiquei acordado a noite inteira atrás do bagulho e não consegui, tô morto."

A senhora do meu lado, arregalou os olhos de uma tal maneira, que se o busão tivesse vazio ela mudava de lugar, mas não quis arriscar viajar em pé até a barra, e preferiu continuar ao lado do "crackudo".

Eu já fui viciado em várias coisas:
- Figurinhas da Copa do mundo que vinham no chiclete Ploc
- Super Trunfo
- Mirabel de chocolate (ô vicio...)
- Miolo de pão
- Coçar o ouvido com grampo

Mas drogas nunca, pô!
Até cerveja, se eu tomar uma garrafa sozinho dou duplo mortal carpado de ponta a ponta.
E o pior que eu sempre olhava pra bolsa brilhante da mulher.

A senhora abraçou a bolsa de um jeito, que nem trovoada tirava aquilo dela.

E eu continuava o papo do "crack", dos "bagulho"...

Enfim, terminou a ligação, olhei para a senhora sem saber o por que dela estar assustada, voltei a me ajeitar no canto e tentei dormir.

Escutei um sussurro, bem baixinho..
"- Misericóridia, só o sangue pra livrar essa alma..."

Depois de muito tempo fui entender...

E também não tive tempo de explicar, já ouviu falar em ativação de programas de computador?
Precisa do crack tia...
Pirata tudo bem, Drogado não.

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