Rio +35 

Uma tragédia anunciada, a Rio +20 chegava nessa quarta-feira para agradar aos que estavam de folga e irritar aos que trabalhariam e não desfrutariam do misterioso ponto facultativo que até hoje não sei pra que serve

, é um tipo de, “Se não quiser ir trabalhar você não vai, não é obrigado. Mas seu patrão acha maneiro você ir…” Enfim, eu tava lá na mesma caixa de metal ambulante rumo à Meca dos Botox e Land Rovers.

Na van, é tipo o Rio +35, porque são 15 sentados e 20 em pé!

Já sabia que ia ter assunto, pois o engarrafamento já tinha começado na cozinha da minha casa com fila pra abrir a geladeira as 7h da manhã.
Eu tinha que filtrar as conversas pois poderia perder algo que fosse realmente sustentável.
Iniciei a minha simpatia de colocar os fones de ouvido e tentar se concentrar num joguinho pra atrair bons papos e bastou esperar alguns minutos para o piloto da van anunciar que estava tudo parado… A revolta foi geral, todo mundo reclamava, mas uma voz esclarecedora veio lá do fundo e disse: “- Tudo culpa dessa Rio +20!!” Senhoras e senhores pasmen, vocês não avaliam o que essa afirmação tão fervorosa causou dentro deste quente, apertado e reclamante coletivo de passageiros…

Eu achava que a tal Rio +20 vinha pra discutir soluções sustentáveis para o planeta e pra sociedade, mas causou uma situação insustentável dentro da vanzoca cheia e abafada.

Uma senhora mais exaltada fez um discurso que abriria até os olhos do digníssimo Ban Ki Moon numa reunião das Nações Unidas. A partir daí só ela falava.
Primeiro ela citou que em vez de construir hospitais estavam construindo essa tal Rio +20(tá, eu tb não entendi.)
Eu sentava lá atrás no tobogan como de praxe e pude ver a tal senhora fazendo o discurso, ela tinha por volta de cinquenta e poucos anos, cabelos meio grisalhos, parecia trabalhar em alguma loja, ou escritório. Estava com uma camisa gola polo branca por dentro da calça jeans, com um logotipo no peito, tipo uniforme, um cinto marrom pra combinar com o “nipe” 8 molas branco e detalhes dourados.

Achei muito bacana o jeito dela falar, tinha atitude, tinha liderança, estilão presidente, mesmo sem saber do que estava falando… Num dado momento ela olha pro motorista e indaga o fato dele estar dirigindo a van.
“- O governo faz isso com a gente, se tivesse menos apoio aos outros países, você não estaria dirigindo van por exemplo!”

Antes de crucificá-la tentei analisar o exemplo da militante senhora…

O motorista por sua vez, não ficou atrás, disse:
 “- Tia, na moral, eu curto dirigir, faço meu horário, meu dinheiro vem na mão e sou meu próprio patrão…”

A tia revolucionária sussurra com uma mulher sentada fazendo cara de vilã de novela:

“- Isso que Eduardo Paes quer…”

 Oi?

 Tia revolucionária esbraveja:
“O brasileiro não enxerga as coisas, todo mundo vindo aqui comprar a Amazônia nessa feira de Rio +20, e a gente aqui com os braços cruzados!!!!”

 Na boa eu poderia invocar o Capitão Planeta dentro da van (Terra, fogo, água, vento, coração!) e voar pro Rio Centro, mas como eu tava atrasado pro trampo deixei meu lado herói pra quando uma outra hora.
E depois daquilo, senti que os passageiros já estavam de deboche com tia, e começavam a pilhar pra que ela falasse mais, e ela tava curtindo.

 Tia revolucionária:
“- Esse trânsito todo tá me irritando!

 Ok tia, conta uma novidade agora…

“- Que droga de ponto facultativo é esse? Todo mundo trabalhando!”

“- Essa tal Rio +20 poderia ser em outro país, isso sim!”

Cospi minhas amígdalas na hora!
Como assim tia? Tá pensando que essa bagaça é Rock in Rio? Tipo Rio +20 Madrid? Lisboa?

Tenha dó! E eu levando maior fé na Che Guevara de Camará, cheia das ideologias e me sai com uma dessa…

 Piloto, para no próximo ponto que é o meu habitat natural!!!!

 

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