No mês em que o hip-hop celebra 52 anos, o Cine Metrópolis, na Universidade Federal do Espírito Santo, recebe no dia 26 de agosto (terça-feira), às 19h, com entrada gratuita, a primeira sessão pública de “Onde Está Zumbi?”. O documentário de 53 minutos reconstrói o processo de criação do LP “Tributo a Zumbi” (1996), primeiro registro fonográfico do rap capixaba.
A obra conduz o espectador aos anos 1990, quando a cultura hip-hop se consolidava como linguagem de resistência em um Espírito Santo marcado pela violência urbana, pelo racismo e pela ausência de políticas culturais para a juventude periférica. É nesse cenário que a Ladeira São Bento, no centro de Vitória, surge como ponto de encontro de artistas e militantes, um espaço que funcionou como um quilombo urbano.
Pandora Da Luz, articuladora de encontros no local, rememora: “A Ladeira São Bento representava um espaço de força e abrigo. Estar ali era como ter um quilombo no meio da cidade, um lugar para formar pensamento, criar e se reconhecer”. Dessa convivência surgiram vínculos que conectaram diferentes grupos e deram origem à ideia de gravar um disco coletivo.
O filme reúne vozes de quem viveu esse processo. Renegrado Jorge, um dos articuladores do projeto, lembra que gravar era caro e exigia precisão: “A gente tinha que ir para o estúdio ensaiado, nervoso, porque o dinheiro não dava para errar. O vinil ficou com falhas, mas era o máximo que a gente conseguia para a época”. Sagaz, integrante do Suspeitos na Mira, reforça o valor simbólico do formato: “Lançamos o LP no auge do CD. Para nós, a cultura do vinil é um relicário. Não abríamos mão disso”.
Zumba, do Negritude Ativa, destaca o impacto político da faixa “Ideologia do Gueto”: “Ela me fortaleceu no meu pensamento, na minha ideologia. É nós por nós mesmo”. Já GL Preto, parceiro de Zumba no grupo, observa que a experiência marcou a cena local: “O disco se tornou um marco histórico para o hip-hop do Espírito Santo. Pouquíssimas pessoas têm acesso a ele hoje”.
O LP reuniu oito grupos — Negritude Ativa, Tropa de Zumbi, Conceito Feminino, Mano Jeff & DJ Edy, DJ Criolo & Renegrado Jorge, Suspeitos na Mira, Observadores e Radicais Livres — gravados em estúdios improvisados e com equipamentos como o teclado Roland W-30, que integrava sampler e sequenciador. Com poucos segundos de memória para cada amostra, exigia soluções criativas e montagem manual das batidas, tornando cada faixa um exercício de engenhosidade coletiva. As letras abordam racismo, violência policial, desigualdade social e afirmação da identidade negra.
Para o diretor Luiz Eduardo Neves, o filme vai além do registro: “É um filme sobre a necessidade de lembrar. O Tributo a Zumbi documenta um momento em que o hip-hop se inscreveu de forma definitiva na história cultural do estado. Um registro que conecta passado e presente, reafirmando que as batidas e vozes daquele vinil ainda reverberam nas ruas”.
“Mais que reconstruir um disco, ‘Onde Está Zumbi?’ documenta um momento em que o hip-hop se inscreveu de forma definitiva na história cultural do estado. Um registro que conecta passado e presente, reafirmando que as batidas e vozes daquele vinil ainda reverberam nas ruas — e seguem iluminando os caminhos de uma cultura que completa 52 anos.”
Mais que reconstruir um disco, “Onde Está Zumbi?” documenta um momento em que o hip-hop se inscreveu de forma definitiva na história cultural do estado. Um registro que conecta passado e presente, reafirmando que as batidas e vozes daquele vinil ainda reverberam nas ruas.
A realização do documentário foi viabilizada com recursos da Secretaria da Cultura do Espírito Santo (Secult-ES), por meio do Edital Funcultura nº 14/2022, destinado à seleção de projetos de Produção Audiovisual no Estado.
Serviço:
Exibição do documentário “Onde Está Zumbi?”
Data: 26 de agosto (terça-feira)
Horário: 19h
Local: Cine Metrópolis – UFES (Av. Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras, Vitória)
Entrada gratuita
Ficha técnica:
Direção e roteiro: Luiz Eduardo Neves
Direção de fotografia: Diego Capeleti e Rafael Harduim
Edição: Diego Capeleti
Produção: Luciano Adriano
Produção musical do LP: DJ Criolo, DJ Tropeço e Onival
Elenco: DJ Tropeço, GL Preto, Mano Jeff, José Roberto Santos Neves, L.Brau, Pandora Da Luz, Renegrado Jorge, Sagaz e Zumba
Trilha sonora:
– “A História de Ed” – Tropa de Zumbi
– “Futuro Destruído” – Mano Jeff
– “Ideologia do Gueto” – Negritude Ativa
– “Verdades” – Radicais Livres
– “Olho por Olho” – Suspeitos na Mira
– “Vítimas do Submundo” – Conceito Feminino
– “Zulunegão” – Renegrado Jorge

















