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Cara feia pra mim é fome...

Cara feia pra mim é fome...

 

Hoje em dia, arrumar um lugar no mercado de trabalho é muito difícil, mas eu posso afirmar com convicção que, arrumar um lugar sentado no 803 é muito mais difícil.

Eu acho que tem mais gente trabalhando do que lugares disponíveis nas lotações, fato.


Tava eu lá, no lugar e horário de sempre, agora descobri um macete de ficar em pé no busão sem tomar uma rabiscada, fico ali num “curralzinho”onde tem um banco para cadeirantes, ali dá pra mandar o famoso “bunda na janela”e você protege as “folhas”de seu caderno dos escritores rodoviários. #ficadica

O buso lotou e duas moças sentaram na escada da porta central do ônibus, aquela porta também só abre se algum cadeirante for subir, desconfortável para sentar, entra um vento gelado pacas pela frestinha, mas as “folhas”também estão seguras.

Uma delas portava a seguinte descrição:

Morena, cabelo channel-henê-rená, calça pagando cofrinho russo, calcinha de oncinha desbotada, mais pra dálmata do que onça(acho que essa onça já estava em extinção a tempos…) e uma daquelas jaquetas jeans curtinhas com gola de pelo de carneiro, bem anos 80…era uma mistura de Néim com Jane Dubóc. 

A danada tinha uma bolsa de jacaré vermelho brilhoso, muito comum nos pântanos dos camelódromos e centros comerciais mais próximos, com adereços dourados e penduricalhos, e o mais importante adereço, aquele que dá o status, o glamour, a posição social e cultural no habitat daquele ser humano exótico: O Rádio! Mas pra ser um Néquishtél que se preze, tem que ser Ferrari, amarelo e tocar um hit de Valeska Popozuda, senão você não é ninguém.

Eu, cumprindo o meu ritual de sempre, ouvir músicas para matar o terror da viagem dei um play num setzinho lounge bemmm relax, quando começa o cantarolar do grilo eletrônico…

Triii! Triiii! Pruuu! 
Triii! Triiii! Pruuu!
Tuuuu! Piiii! Tuuu!

Tinha um cara que estava tentando domir, num banco a frente dessa escada, e estava incomodado com o barulhinho(assim como todo mundo), que se fazia irritante.

E eu com meu telefone na mão, alternando música e joguinho, mega inocente, entretido ali, notava que a cada barulhinho, o cara olhava pra mim. E isso foi ficando constante, o cara achando que era eu com a maior cara feia... 

Até que uma alma salvadora atendeu o chamado da “Jane Dubóc.

Alma salvadora: “- Faaaaala perigueeete!!!
Triiii! Pruuu!

Jane Dubóc: “- Pooorra, num atende mais essa merda não????

“- Tem Néquishtél pra quê?
Triiii! Pruuu!

Alma salvadora: “- Ahhhh, se f…. vai…”
Triiii! Pruuu!

Jane Dubóc: “- Xô te falar um bagulho, tu tá lá no hospital ainda?”
Triiii! Pruuu!

Alma Salvadora: “- Claro né? Num tenho coroa rico pá me bancar não colega…" Triiii! Pruuu!

Vocês não sabem como aprecio diálogos poéticos e filosóficos, sério.
Vejo poesia nesse tipo de coisa, rs.

Jane Dubóc: “- Xô te falar um bagulho pá tu, o Élito, vai fazer uma cirurgia prástica na terça, com PITANGUY, lá na Santa Casa de Misericórdia.

Que Deus tenha misericórdia do português que acabara de ser assassinado brutalmente pela moça ali no coletivo.

E também me perguntando se o nome do cidadão não era Wellington…

A cada vez que ela pronunciava Pitanguy, o tom aumentava e a auto estima também. 

Vocês não tem idéia do que é um busão com 150 pessoas em pé, numa noite fria, vidros fechados, e todo mundo espremido ouvindo uma conversa alta, irritante e chiada, naquelas condições eu acredito que um simples e silencioso “Pum” iniciaria a 3ª Guerra Mundial.

Voltando ao diálogo.

Jane Dubóc: - PITANGUY, vai pra São Paulo hoje e só retorna na sexta, então na quarta ele já faz a cirurgia…" 
Triiii! Pruuu!

A cara dos passageiros tava tão feia, que nem se tivessem 35 Pitanguys dentro do busão iria deixar esse povo bonito.

Alma Salvadora: “- Ihh, tá podêno hein colega!”
Triiii! Pruuu!

Jane Dubóc: “- Tá vendo!”

“- Ele vai tirar aquele negócio da cara, aquela marca que ficou depois que ele caiu de moto”.
“- Cicatrizô e ficou feião, esqueci o nome, tireóide, calóide…”
Triiii! Pruuu!


Eu ali, #shoraynescauball

Fiquei imaginando o malandro com uma Tireóide no meio da cara…

Alma salvadora : “- Ah legal, ele vai ficar bonito agora né? (risos chiados)”
Triiii! Pruuu!

Jane Dubóc: “- Cól foi? Tá zuando? Ele é feio mas ele que é pai dur meus filho.”
“- E ainda vou desenrolar com o PITANGUY, pra ver se ele ainda dá uma melhorada nele .
Triiii! Pruuu!

Alma salvadora: “- Ih pede pra ele mandar a cara do Cauã Ray@#$**(risos novamente)”
Triiii! Pruuu!

Jane Dubóc: “- Eu queria que tu arrumasse aí no hospital aquela pomada cicatrizante, aquele anti-inflamatório e um remédio pa gripe.”
Triiii! Pruuu!

Alma salvadora: “- Tranquilo, tranquilo, arrumo sim, tá no pente já.”
“Mas ele tá gripado também?”
Triiii! Pruuu!

Jane Dubóc: “Não, eu que vou ficar, tá entrando um ventinho frio sinistro aqui pela fresta da porta do ônibus…”
Triiii! Pruuu!


Acho que acertei quando disse que essa era uma alma salvadora…

Ô piloto, vambora que cara feia pra mim é fome, próximo ponto desce!

 

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