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Eu só não quero chegar suado

Religiosamente toda manhã estou lá no ponto final, ando uns 15 minutos da minha casa pra poder chegar, ando devagar pra não chegar suado, claro. Agora faço parte daquela galera que sempre traz café da manhã e compartilha na fila e vem sacaneando uns aos outros dentro da van.

Sou foda.

Tô lá esperando a danada a pelo menos uns 20 minutos, então chega uma van e estaciona, chega a segunda e idem, a terceira a mesma coisa...
A paciência da galera já tinha embarcado faz tempo.

Já reparei que a galera quando tá pilhada com algo, basta o primeiro reclamar pra todo mundo vir junto.  Sempre funciona. Então eis que grita o primeiro revoltado:

"- Ow pilotoow, ça van num vai sair nunca mais não? Tá escangalhádessa porra?????"

Então veio a enxurrada de reclamações em seguida, uma feira.
Lá de longe vem o cobrador da van todo trabalhado na preguiça, dizendo que não sairia van alguma pois ia rolar uma manifestação no centro da cidade.

Pensei, deu merda, é claro que deu.

Vou ter que andar mais um pouco até o ponto do ônibus então, e devagar para não suar.
Cheguei no ponto, mais uma gigantesca fila me aguarda.
Cara, queria saber porque que essas pessoas passam o dia inteiro em filas? Todo lugar que se vá tem fila, bizarro.

Comprei uma pipoca Frank pra ir forrando o estômago, por que eu não chegaria cedo mesmo, sentei, arriscando na loteria que aquela fileira não era a do sol, porque eu não queria suar.
Pensei em ouvir uma música pra relaxar, talvez ler meu livro, mas não consegui, tava tenso.

Um casal na minha frente namorava freneticamente como se estivessem numa gôndola em Veneza.
Eu acho uma coisa horrível ficar com raiva da felicidade do outro, mas me desculpe, aquilo estava me irritando. Era cada beijo, uns grunhidos e uns "momôzis" de embrulhar o estômago, adeus pipoca.

Uma senhora passa por mim pronta pra descer, e na freada do ônibus tasca uma bolsada na minha cara.
Senti o gosto enferrujado do fechecler arranhando minha gengiva, dei um sorriso com a boca fechada e um só olho aberto, tipo Popeye.

Olha, esse ônibus de 888, bem que poderia se chamar 666.
Meu drama tava completo?

Não.

Do meu lado uma mulher, desculpem não poder dar a descrição, porque meu olho ainda estava ferrado por conta da bolsada.
Mas a mulher puxa uma tangerina da bolsa, das grandes.
E a cada mordida, espirrava umas gotinhas em mim e aquele cheiro impregnava o busão.
Tava eu, estressado, agoniado com o love story na minha frente, com um olho ferrado e fedendo a mexirica.

Sem mais nada a fazer, decidi dormir pra ver se era um pesadelo apenas.
Fechei o olho por exatos 25 minutos, olho pro lado e a mulher tangerina usava a tela do seu smartphone para conferir os dentes, saca quando passa a língua de ponta a ponta na arcada dentária pra limpar o dente sujo de batom?  Sim era isso e ainda fazia aquele barulhinho, Tchiif!

Fechei os olhos de novo e voltei a dormir.
Acordei próximo ao meu ponto,  mais atrasado que salário de jogador do mengão, vi que não era pesadelo, levantei e fui a luta.


Piloto, próximo ponto desce porque já paguei meus pecados de hoje!

 

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