Conheçam o trabalho jornalístico do Alma Preta
Portal que trabalha o jornalismo independente especializado em mídia negra.
A cada dia novos espaços especializados em diversos segmentos vem sendo criados para abordar assuntos que vão dos mais fúteis, aos mais necessários. E é nessa segunda opção que se encaixa o Alma Preta. O portal que vem crescendo e se destacando a cada dia no meio na negritude brasileira é um espaço para que possamos estudar, entender, debater tudo que acontece com nosso povo negro. Hoje o Alma Preta é um parceiro do DNA Urbano e será um dos nossos fornecedores de conteúdo. A mídia livre tem que se unir e levar o melhor conteúdo para seus públicos. Confira o bate papo que fizemos com o Pedro Borges, um dos responsáveis pelo portal e conheçam melhor o trabalho dessa rapaziada talentosa e dedicada.
DNA Urbano – Como o Alma Preta se formou?
Alma Preta - O Alma Preta é fruto de dois movimentos históricos, um mais longínquo e outro mais recente. A imprensa foi criada no Brasil em 1808 com a chegada da família real ao país. Anos mais tarde, em 1824, criou-se aquilo que hoje chamamos de imprensa negra.
Desde então, negras e negros organizam jornais e portais de resistência da comunidade negra, na medida em que a mídia pouco pauta temas sensíveis e delicados aos afro-brasileiros. Mais do que isso, o jornalismo brasileiro apresenta os temas a partir de uma perspectiva de classe, raça e gênero hegemônicas, distantes da realidade de negras e negros. Temas como a carga tributária do país e a democratização da mídia, por exemplo, são abordados a partir do olhar do grande capital.
O outro movimento mais recente é a maior entrada de estudantes negros nas universidades brasileiras. Mesmo que o grupo não tenha estudantes ou formados cotistas, a construção do coletivo negro Kimpa – Unesp Bauru e a formação do Alma Preta é reflexo da efervescência política causada pela maior presença de negras e negros nesse espaço.
A partir daí, quatro jovens negros, Pedro Borges, Vinicius Araújo, Vinicius de Almeida e Solon Neto, iniciaram a construção do portal de mídia negra Alma Preta.
DNA Urbano – Quais os principais objetivos do Alma Preta?
Alma Preta - O Alma Preta tem entre os seus objetivos centrais o combate ao preconceito, à discriminação, ao racismo e também o fortalecimento da identidade afro-brasileira. Para isso, o portal produz notícias sobre atividades da comunidade negra, assim como denuncia casos de racismo.
O grupo entende que se opor ao racismo exige uma postura contra a estrutura do Estado e, para isso, é preciso destrincha-lo de maneira cuidadosa a partir de uma perspectiva de raça, classe e gênero. Por isso, o Alma Preta produz reportagens sobre problemas crônicos da sociedade brasileira como a proposta de reforma trabalhista e previdenciária do atual governo ilegítimo.
DNA Urbano – Como o Alma Preta avalia a cobertura da mídia hegemônica?
Alma Preta - A cobertura da mídia hegemônica sobre os mais diversos temas é superficial, preconceituosa e conservadora, como já ensinou teóricos como Perseu Abramo e o professor da Unesp Bauru, Juarez Xavier.
A mídia cumpre a função de sustentação ideológica do sistema de dominação vigente, que se utiliza do Estado para superexplorar a massa trabalhadora e os corpos negros. Para isso, é preciso se utilizar de técnicas que Perseu Abramo apontou como os padrões de manipulação da mídia.
Ela oculta ou desvia aspectos fundamentais para o entendimento da realidade de acordo com os interesses políticos e econômicos das elites nacionais e internacionais.
Alma Negra entrevistando o DJ KL Jay
DNA Urbano – Qual a importância da mídia negra no Brasil?
Alma Preta - De acordo com dados da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), há apenas 22% dos jornalistas em atividade hoje no país são negros. Os dados se agravam e muito nos principais portais do país, como a Folha de S. Paulo, O Globo e Estadão, onde o número não passade 5%.
Nesse quadro, a mídia negra se torna uma ferramenta importante para receber esses profissionais e produzir conteúdo a partir da perspectiva do cidadão negro brasileiro.
Mais do que a representatividade, olhar para a sociedade a partir de uma perspectiva de raça, classe e gênero é algo fundamental para uma mudança estrutural na sociedade brasileira. Infelizmente, os principais portais almejam a manutenção do status quo e não buscam a ruptura social. Mesmo os portais que se colocam à esquerda esquecem de pensar a partir das perspectivas de gênero e raça, também estruturantes da sociedade brasileira.
A mídia negra então permite o espaço ao jornalista negro e uma possibilidade de narrar a sociedade sob a ótica de classe, gênero e raça. É a partir dessa proposta que podemos pensar numa sociedade mais justa e igual.
DNA Urbano – Qual a importância da Cultura Hip Hop para o enfrentamento ao racismo?
Alma Preta - A cultura sempre foi uma ferramenta muito importante de combate ao racismo. Antes mesmo do Hip Hop, negros fizeram esse enfrentamento com o Rock, Blues, Jazz, Soul, Samba, entre outras. Com o Hip Hop não foi diferente. A resistência cultural da comunidade negra norte-americana, brasileira e afrodiaspórica permitiu a sobreviência desse grupo racial e o questionamento aos Estados de supremacia branca.
No Brasil, exemplos não faltam. Evidentemente a recordação mais forte que temos, por residirmos em São Paulo, são os Racionais Mc’s. A lista não se limita a eles e hoje traz nomes como Yzalu, Tássia Reis, Coruja Bc1, Emicida, entre outras e outros.
DNA Urbano – Como vocês abordam a cultura Hip Hop no portal Alma Preta?
Alma Preta - Abordamos a cultura Hip Hop enquanto expressão estética, popular e política. É muito bacana trazer a tona os arranjos criados por músicos, artistas, grafiteiros negros que se utilizam de algum dos 5 elementos para construir uma obra de resistência.
Quando colocamos “resistência” e “política”, não nos limitamos ao debate macro e a táticas de denúncia ao racismo. É algo muito mais amplo. Escrever ou desenhar sobre o amor são também atos carregados de força política. Tratar sobre afetividade entre a comunidade negra é uma ação de extrema relevância.
O DNA Urbano agradece