Com ela o buraco é mais em cima

 

Quanto mais rezo, mais assunto me aparece, que maravilha! Como tem gente criativa nesse mundão de meu Deus.

Voltando da labuta, com a vida que pedi ao Pai, tudo dando certo, não demorei na fila, veio uma Van alta, ar condicionado gelando e o maldito pagode. Tá, releve o pagode, nem tudo é perfeito.

 
Daí começa o desespero, sento sempre no canto pra poder ir dando cabeçada no vidro, isso é certo.
Senta do meu lado uma mulher, toda de branco, parecia trabalhar em clínica, espirrando mais que tudo nessa vida. 
Por isso suspeitei dela trabalhar em clínica, pegou essa zica de alguém lá, só pode.

Logo a frente reparei uma mulher de uns 38/40 anos, cabelos curtos, óculos na cabeça, uns 70 kilos, na generosidade. 
Vinha falando freneticamente com um rapaz ao seu lado. Gel no cabelo moicano, cordão chapeado, relógio de pulseira colorida, adidas preto com 1 dedo de meia aparecendo, bermuda abaixo do joelho tipo calça corsário, só faltava um item nessa fantasia suburbana.

A porra do abadá!

Bem como eu disse, nem tudo é perfeito. Ainda bem.

A gordinha vinha falando eletricamente, tava difícil de entender o assunto no meio de gente cantando pagode, nextel, celulares e uma doida espirrando como uma lhama.

Quando eu consegui sincronizar o som, percebi que ela trabalhava em salão de beleza.

Na parte que comecei a entender, ela dizia ao rapaz:
“- também já fiz o cabelo da Marlene Mattos”

Pensei eu : “Porra, era castigo, só pode”.

E ela continuava a derramar seus grandes feitos:
“- Fiz o cabelo do Andrezinho, Claumirzino e Jimmy batera, todos do Molejo”.

Tava difícil de resistir a tanto talento!

O rapaz estava mudo diante dessa celebridade capilar, ele só ouvia.

Gordinha: Depois a Marlene(intimidade é uma merda mesmo), me chamou pra fazer o Planeta Xuxa.

Viu no que rendeu um tapa naquela cabeleira tosca?

Gordinha: Então eu fazia o cabelo da Xuxa, das Paquitas, do Fly…

Quando recebo mais uma sequência de espirros…

E ela não parava…

Gordinha: Fiz ao todo 36 “planetas”…

Ae eu pergunto( a mim mesmo, claro): “- Onde está seu Deus? Quantos planetas ele fez?

Eu estava ali, diante de uma, uma…faltam palavras nesses 36 planetas para dizer quem era esta criatura.

O telefone dela toca, e o rapaz suspira:

Gordinha bolada no telefone:
“- Eu quero meu carro em casa quando eu chegar, ouviu?”


“- Isso é falta de respeito e consideração!”
“- Eu trabalhei muito pra comprar esse carro e hoje estou andando de van!”

Ali eu me senti mal, acho que todo mundo se sentiu…o tom da palavra van magoou…
Olhei para o lado e vi pessoas torcendo o nariz, e comentando a infeliz colocação da moça…

Desligando o telefone ela tinha notado que mandou mal, e tenta se explicar com o rapaz:
“- Não que seja ridículo andar de van ou ônibus, mas é que eu trabalhei pra ter meu conforto, entende?”
” – Moro muito longe, preciso de um transporte mais confortável…”

Me senti vingado na hora dela descer, vocês já vão entender o por que…


Chegando ao centro de Bangu, o cobrador anuncia o próximo ponto, carinhosamente chamado de “Buraco do Faim”

em alto bom som e poucos dentes ele pergunta aos miseráveis passageiros daquela fétida e inigualável condução:

” – Alguém no buraco???”

É quando a famosa estilista das jubas dos artistas falidos levanta a mão e anuncia sua descida.

E o cobrador diz: “- Buraco desce!”

Uma mulher que sentava atrás dela fala meio pra que todos ouvissem:
“- É no fim de tudo, todo mundo vai pro mesmo buraco!!!!”

Segurei a gargalhada e segui minha viagem…

Piloto, tira a franja da cara e mete o pé!

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