fbpx

Conheça “Hip Rap Hop", o primeiro disco do Região Abissal, marco histórico do rap nacional.

Produzido pela Red Bull e dirigido por Rafael Rocha, Doc fala do 1º disco de um grupo de rap no Brasil.

"Quando alguém se propõe a contar a história do RAP no Brasil, dificilmente você vai ouvir falar do Região Abissal”, constata Athalyba, um dos vocalistas do grupo.

Ele tem razão. Quem não se aprofunda na história das origens do RAP nacional provavelmente desconhece o Região Abissal, em especial a importância do seu primeiro disco, "Hip Rap Hop" (1988), um marco por ser o primeiro álbum completo de um grupo de RAP no Brasil. Dê um Google aí. Não tem muito material que fale mais da história de Athalyba, DJ Giba, DJ Kri, Guzula, Bafé, Marcelo Maita e Adilson.

Mas quem sabe isso comece a mudar agora. Os dois episódios que formam o pequeno documentário “Hip Rap Hop”: Região Abissal - O primeiro disco de um grupo de rap nacional estão disponíveis no RedBull.com para cumprir essa missão.
Com depoimentos de alguns integrantes do grupo, além das participações de Eliane Dias (empresária do Racionais), Sharylaine, Thaide, KL Jay (Racionais MC's), Nelson Triunfo, OGI, o documentário mostra como o Região foi pioneiro na produção de seus próprios beats e melodias, lidou com a resistência da gravadora em entender o som do RAP e especula as razões que levaram um disco tão importante ficar muitas vezes de lado na história do gênero.

Veja as duas partes do documentário:

{youtube}5vfoEHz_GcA{/youtube}

{youtube}2knSBb0osCQ{/youtube}

Leia uma rápida entrevista que fízemos com o DJ Giba e o Athalyba:

Queria saber que lembranças e saudades vocês tem da época da produção e gravação do "Hip Rap Hop" em 88.

Giba: A gente não conhecia o movimento rap de São Paulo, começa por aí. A gente descobriu o rap ouvindo as músicas internacionais. Eu me peguei: "Como é que faz isso, meu?". Foi um amigo meu que falou dos samplers, da bateria eletrônica. Na época, ninguém sabia direito nem o que era um computador. Eu fui atrás de uma bateria eletrônica e dali em diante que a gente foi saber da existência do Thaíde, da São Bento, de conhecer o movimento mesmo. A gente não seguia o parâmetro dos grupos de pegar um vinil com uma base instrumental gringa e cantar em cima. Com a bateria eletrônica, o teclado e a nossa parafernalha, a gente criava tudo ao vivo. A minha grande saudade é dessa época, a época da inocência, que a gente a fazia de tudo pra poder se divertir.

Athalyba: A lembrança que a gente têm é mais da Bela Vista, nós sete éramos de lá. A gente se encontrava todo santo dia, entendeu? Para falar de rap, falar do Região Abissal. Foi uma época que estourou o rap em São Paulo, os grupos eram a grande atração dos bailes, tinha lambe-lambe nas ruas.

E a característica de vocês tocarem tudo ao vivo marcou o som do primeiro disco, né?

Giba: Hoje, com uma bateria eletrônica, você sequencia, dispara e ela faz tudo sozinho. Na gravação do primeiro disco, era tudo manual. O produtor Dudu Marote, amigão nosso, emprestou um sampler pra nós, um puta sampler da época. Só que a gente chegou no estúdio e eu não tive tempo hábil de mexer no equipamento, entendeu? Eu consegui samplear algumas vozes, mas no tempo que a gente tinha eu ainda estava estudando como fazer aquilo. Mas usamos muita colagem com os scratchs.

E questão das letras? Vocês falavam de relacionamento, de malandragem, de política... Tinha uma variedade.

Giba: Na minha cabeça eu penso que o rap não tem bandeira, entendeu? As pessoas querem colocar uma bandeira no rap, mas eu acho isso errado. E o Região Abissal é um grupo que nunca assumiu uma postura única. Pra você ideia, no segundo disco tem um funk que a gente fez, na época falava Miami Bass, tem isso lá. Os outros grupos assumiram uma bandeira - ou é radical ou não é. A gente não foi nessa. Se o Ataliba chegar aqui em casa com um som com influência de partido alto, nós vamos atrás disso. É isso mesmo, Atala?
Athalyba: É isso mesmo. E assim, eram sete caras, sete influências e tinha espaço pra todo mundo. A gente era bastante eclético, nesse sentido. Queríamos fazer aquilo que a gente conhecia, a gente começou e aprendeu a fazer rap praticamente sozinho.

Fonte: VICE - Fotos: Guilherme Santana/VICE