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Busos e dragões

Busos e dragões

 

Sabadão de sol, 14:04h e eu no ponto do Barra Shopping, esperando o meu querido 756, só pra matar a saudade da semana né?

 

Busão chega, enche e sai, numa rotina cronometrada, a cada 6 minutos isso se repetia, e eu lá a mais de trinta minutos parecendo uma estátua viva a espera de moedas dos passantes.

 

Achei muito estranho e resolvi perguntar ao fiscal sobre o já naquele momento não tão mais querido 756.

"- Ae brou, o ponto do 756 mudou? Tô aqui a meia hora e nada, sabe me dizer?"

O fiscal naquele visual default, camisa azul com os dois primeiros botões abertos, cordão de couro preto e medalhinha do flamengo, calça preta e surrada, sapatos pretos. Todo original de fábrica e ainda vinha com os opcionais, toalhinha na gola presa com clips de papel, óculos espelhado na testa estilo salgadinho do Katinguelê e palito na boca, vem e me diz.

"- Ih jogador, o 756 agora é 803...""

Eu, agradeci a revelação, informação essa que faria com que eu voltasse pra casa e não ficasse aprisionado nesse plano interdimensional por toda a eternidade. Nessas horas que vejo o quão pilantra é o Mestre dos Magos né? Custava responder diretamente pros caras assim como fez o fiscal para mim? Whatever..

Ah, vale lembrar a minha cara de nádegas, por saber que todos os ônibus que chegavam e saíam eram justamente os que eu deveria pegar...

Adentrei o coletivo na ânsia de voltar para o meu lar, vi que todos os bancos do lado direito estavam vazios e os do lado esquerdo completos.

Santa ingenuidade, caí na armadilha mais velha da terra, mas o cansaço nessas horas é inimigo de toda malandragem de rua...
Sentei no último banco e no canto, e se não estou enganado, eu juro que ouvi risos.

Botei os fones de ouvido, cabeça no encosto, Tributo a Nate Dogg no ipod e startei minha jornada rumo a Zion.

Os primeiros 300 metros foram relaxantes, pista lisa ,sombra e eu não entendia porque todo mundo havia escolhido o canto do sol, seria mais barato talvez?

Foi depois da primeira curva que eu tive a segunda revelação do dia. Uma voz mansa dizia "Cavaleiro, você voltará para o seu mundo, mas não pense que será fácil."

Depois da curva, eu tomei uma rajada de um laser solar na cara, que fiquei preocupado dos fones derreterem dentro do meu ouvido(tá eu já usei isso em outro conto, mas nesse caso a sensação era a mesma).

E fui com aquele sol me castigando, e o pior o vidro do buso que não abria, funcionava como uma lente, aumentando a intensidade do calor.

E cada vez mais o lado esquerdo da minha cara ia queimando mais...
Pensei em levantar, mas achei que seria muita humilhação perante os outro passageiros...
Bom guerreiro que sou, fui grelhando minha face ali como se nada tivesse acontecendo.

Botei um Rage against the machine no ipod pra resistir a minha batalha enquanto meu olho esquerdo tremia querendo saltar da cara...

Meu estoque de saliva já estava acabando também, e eu lá guerreiro fazendo pose. Cada sinal fechado era o aumento do sofrimento, e minha mochila preta no colo fazia parecer que eu estivesse segurando um leitão à pururuca sem luvas.

Depois de uns 25 minutos ali torrando o lado esquerdo da cara, senta uma senhora do meu lado, sabe aqueles que pegam o buso num ponto pra descer três pontos depois? Dessas.

Senta do meu lado e diz:

"- Com licença.""

Eu:
"- Fique a vontade...(se você conseguir...)"

Senhora: 

"- Tá sol aqui né?"

Eu: 
"- Tá sim." ( Nem percebi minha cara mais suada do que pano de cuzcuz tá assim de sacanagem...)

Senhora:
"- Ih meu ponto. Tchau."

Eu: 
"- Tchau, vai com Deus."( Que eu vou continuar meu estágio aqui no microondas)

Bom, depois dos mais quentes 45 minutos da minha semana, meu ponto vinha chegando e eu me preparava para descer e correr em chamas pela rua.

Chegou, eu desci parecendo aquela máscara do teatro(sabe, no meu caso, metade preta e a outra metade mais preta ainda).

Mas diferentemente da outra história lá dos cavaleiros, cheguei em casa.

 

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