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Tratamento de choque

Tratamento de choque

 

Tava um calor insuportável, um sol de fritar os miolos do Robocop, e sabemos que em Bangu isso é elevado ao cubo né?

 

Eu curto sentar no banco do canto, aquele que tem janela e tal, mas nesse dia, algo me avisava para não sentar ali, mas, com o bafo que fazia, foi a primeira opção.

 Triste escolha.

 
Tô lá sentadão, tranquilo, cabelos ao vento, senta uma senhora do meu lado, a tia aparentava uns cinquenta e muitos anos, blusinha florida, bermudão de elástico e uma penca de sacolas plásticas no braço, coitadinha da mamãe natureza, com tanta sacola...
Eu sempre com meu fone de ouvidos, esperando captar as pérolas.
A viagem seguia tranquila e abafada, quando o sujeito do banco atrás de mim começa a roncar timidamente...
 
Porra, na moral, ronco pra mim é pior do que "bufas", sério...Bufa o cara larga uma, tu faz uma apnéia, de repente o cara larga uma outra com menos intensidade, mas não passa disso...
 
Agora ronco é fogo, a parada é gradativa, vai aumentando de nível, e ainda rola um "refresh" de vez em quando, quando o camarada dá aquela disfarçada e imita o porco...
 
Sei do que tô falando, tenho experiência nisso...
Então, o camaradinha do banco de trás veio roncando...e vinha aumentando, e eu vinha disputando com ele, a cada aumento de ronco eu aumentava o volume do Ipod, até que...
 
O meu limite de volume terminou e o desgraçado saiu vencedor...
É digno e bonito o ser humano aceitar a derrota e receber o castigo, e eu estava levando o meu, o ronco vinha cada vez mais intenso invadindo meus tímpanos, parecia que na van apenas eu ouvia o ronco, e o que me dava mais nervoso não era o som, foi olhar pra trás e ver aquela figura horrorosa parecendo um pelicano com uma imensa boca aberta e a camisa desabotoada na altura do peito, um tufo de cabelos enrolados como um aspirante a Tony Ramos, patético...
 
Ok, iniciei meu processo de ódio no coletivo, normal.
 
Então a tia do meu lado comenta reclamando do porcão:
"- tem gente que não não tem noção né?"
 
Eu apenas balancei a cabeça em sinal de positivo, e tentei me concentrar...
 
A tia em uma de suas sacolas, retira agulha, linha e começa a iniciar um tricot...
A parte dois do castigo acaba de começar.
A cada curva que o Shumacher fazia, a tia vinha caindo pra cima de mim...
Toda hora a mesma coisa:
 
"-Desculpa meu fio, esses motoristas não tem mãe, só pode!"
Retrucava a tia a cada curva...
 
E o cara roncando, maldito!
A tia não se contentou em apenas cair em cima de mim nas curvas, então começou a fazer acupuntura na minha costela...cada curva uma espetada...
Que delícia!
 
Mas nesse dia estavam achando o castigo leve...só pode.
 
Então a mocinha na frente abre um pacote de biscoito O Globo...
Até aí tudo bem, quem não come biscoitos né?
Mas não é legal você comer biscoitos de polvilho com a janela aberta e o piloto a 200km/h...
 
Resultado, farelos na cara, cabelo e camisa, da Taquara a Barra eu era uma Kafta na farofa, e o pior, a safada tinha educação e mordia o biscoito em pequenos pedaços...
 
POORRAAA, ENFIA ESSA MERDA TODA NA BOCAAAAAA!!!!
 
Gritou meu subconsciente com a cara cheia de polvilho...
Enfim, naquele momento eu estava no lugar onde mereceriam estar os piores sujeitos da terra.
 
Meu nome é Criz Silva e só por hoje eu não peguei a van.
 
Obrigado.
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